“Angola é uma democracia jovem em plena evolução”, disse José Eduardo dos Santos num dos seus arrotos verbais formatados por especialistas ao seu serviço.
Por António Setas
Os revús vieram de lá, pegaram na evolução, meteram-lhe um “erre” nas trombas e o resultado está aí, JES transformado em grande impulsionador duma nova revolução em Angola. E principal gerador de revolucionários.
Quando chegou o dia 21 de Março aconteceu a sessão em que foram anunciadas as penas requeridas pelo Ministério Público e a verdade é que nada do que pesava como acusação contra os revús tinha sido provado.
E nós escrevemos então, num artigo que foi publicado na nossa edição do passado dia 26 de Março, e também no Facebook e alguns dos extractos desse artigo passaram no site Le Monde Afrique do prestigioso jornal francês: “Afinal nunca houve tentativa de GOLPE DE ESTADO (…) Mas também ficou provado, segundo o Ministério Público (MP), que os debates realizados pelos revús não serviam apenas para ler os livros, mas que eles planeavam e contavam concretizar actos de rebelião. “Os arguidos queriam aprender as maneiras de destituir o poder”, disse Isabel Fançony».
O que se passou nessa carnavalesca sessão de tribunal de 21 de Março, a manchar de maneira indelével a justiça angolana, passa por detalhes interessantes protagonizados pela “digníssima” representante do MP, Isabel Fançony, que apareceu a público com outro capacete cabeludo, mas mais pequenino, viam-se mesmo os olhos. Depois deu um ar da sua desgraçada postura perante o respeito devido ao que está escrito nas leis angolanas em geral e na Constituição da República (?) em particular.
Perante a carência de provas, essa senhora conseguiu tirar, na parte final da referida sessão, «um último coelho da sua cartola, ao acusar os revús, na sua totalidade, de banda de malfeitores, liderada pelos co-réus Domingos da Cruz e Luaty Beirão, para depois pedir a condenação de todos os arguidos por estarem a tentar formar uma “organização de malfeitores”, um crime para o qual a moldura jurídica prescreve um encarceramento de 2 a 8 anos de prisão».
Não se pode compreender tal acusação, na medida em que ela tem como base de sustentação o facto de os revús não terem respondido a nenhuma das questões do juiz nem do Ministério Público ao longo do julgamento. Ora, isso é um direito indiscutível, que assiste a seja que tipo de acusado for. Porém, tão ousada sentença percebe-se perfeitamente se pegarmos na luneta para ver a imagem pelo lado curto do canhão do governo, enfim, de JES.
E temos de pôr em realce que nessa mesma edição do Folha 8, demos uma explicação insofismável das razões que levaram Isabel Fançony a tirar nessa altura o seu coelho da cartola. Ele saiu para servir de base às inculpações que permitiriam satisfazer JES, NO SEU PREMENTE DESEJO DE PÔR FORA DO BARALHO PARA A CAMPANHA ELEITORAL DE 2017 ESSA BANDA DE REVÚS.
Do ponto de vista Maquiavélico, mais uma excelente jogador do nosso jogador-árbitro, mas a se marimbar para tudo quanto seja lei, Constituição, ética, civismo, honestidade moral e tutti quanti de requisitos para uma boa governação.
A explicação alude essencialmente a uma cena que, presenciada ao vivo por um colega nosso que, aqui repetimos por nos parecer importante para compreender como, na desesperança de não poder satisfazer o chefe, os seus lacaios sujam, atropelam e passam por cima das leis do Estado.
O medo do presidente da República
«JES começou a ter medo desde o final das eleições de 2012. Temos uma informação segura a 100% de que um dos seus ministros topo de gama (de Estado) participou num jantar servido, em finais de Novembro desse ano num dos restaurantes VIP de Luanda. Entre os convidados estava um colega nosso, a conversa foi orientada para uma análise dos resultados das referidas eleições gerais e, naturalmente, o pólo de atracção convergia para o que dizia o ministro de Estado. A dada altura esse alto funcionário esqueceu-se de que nem todos os que ali estavam eram militantes do MPLA e revelou o seguinte: «O presidente está muito preocupado com o facto de termos uma juventude cada vez mais impertinente e contestatária. É que em 2017, nas próximas eleições, juntar-se-ão aos que não votaram em nós, outros milhões de jovens que não podemos controlar. Esse é o problema maior do MPLA, atrair a si a juventude».
Quer dizer, esta operação de arresto dos jovens mais radicais tinha sido programada ao pormenor com o objectivo de travar a tendência cada vez mais contestatária da juventude angolana. O objectivo a atingir era pô-los fora de combate até ao desfecho das eleições de 2017. E o que se pode dizer é que ele foi superiormente alcançado, graças, como tantas vezes tem acontecido neste regime, a um desprezo total pelas leis que eles próprios implantaram e deviam defender. Circo é circo!
E nesse mesmo artigo explicámos ainda, «Isabel Fançony, sem dúvida superiormente orientada, compreendeu que tudo estava a caminhar para os revús serem condenados a dois anos de prisão no máximo. Não convinha. Daí vem o porquê de todos os atrasos e de todas as interrupções ao que acresce no final do processo esta alegação de que eles são uma banda de malfeitores, o que, em caso de anuência do juiz, permite encarcerá-los até 8 anos. Essa da última hora de formação de banda de malfeitores vinha mesmo a calhar. Resumindo, as alegações apresentadas pelo Ministério Público provam que os revús foram condenados ilegalmente, por não haver matéria que prove a acusação.
Tirada final do Facebook: «Um tribunal angolano condenou 17 jovens por planearem derrubar o governo. Quando foram capturados os revoltosos estavam em posse do seguinte armamento de guerra: um livro».